Na Linha Cancro muitos são os testemunhos sobre a necessidade de falar sobre a doença que é o Cancro.
Os efeitos no doente dessa barreira à partilha e comunicação podem ser diversos. Internamente, os sentimentos de solidão, angústia, incompreensão e desamparo, podem levar a que o doente se sinta incapaz de fazer frente à doença, a não aderência aos tratamentos, e todas as implicações que tal acarreta ao nível do organismo, inclusivamente no que diz respeito ao sistema imunitário.
Psicologicamente o doente poderá experienciar sentimentos de culpa, originados neste "tabu" que a palavra cancro, ainda hoje representa, limitando a sua capacidade de ação.
Sendo cada indivíduo igual na doença, mas diferente dos demais, os mecanismos de coping, estratégias para lidar com as diferentes problemáticas na vida, divergem de pessoa para pessoa. No entanto, é importante que o doente se sinta mobilizado para usar estratégias próprias para lidar com a doença.
A partilha com outrem, para além de ajudar no alívio de sentimentos e pensamentos perturbadores, muitas vezes paralisantes, promovem a busca de estratégias alternativas. Nesse sentido, muitas vezes o apoio psicológico poderá ser uma ajuda técnica essencial, quando o doente não tem mais nenhum espaço de partilha ou se sente desamparado na busca de sentido da sua nova condição. Daí a necessidade manifesta por muitos doentes de busca de grupos de apoio, onde se sintam escutados e compreendidos, e não "censurados" pelo estigma e vergonha, que, por vezes, existe mais nas pessoas que não têm a doença, que nos próprios doentes.
A Linha Cancro vem, deste modo, representar mais um espaço para tantas pessoas, que independentemente, da sua zona geográfica nacional, do seu estrato social, da sua idade e condição, sentem necessidade de partilhar as suas dúvidas, angústias, lágrimas, expectativas e sentimentos. É importante que, no século XXI, se continue a combater o estigma associado ao cancro, que tantas vezes só aumenta a dor que o próprio cancro já traz em si. Porque sendo o cancro uma doença que ninguém pede, falar dela abertamente, enfrentá-la de frente e apoiar quem dela padece, é sempre a melhor campanha para menorizar o sofrimento dos demais.
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